Em uma sala clara, fechada e fria não se encontra nada. Num piscar de olhos o nada se torna um reflexo dentro de um espelho. A curiosidade o toma e num movimento inusitado o mesmo se põe de pé. A mão como uma ação de desespero toca o reflexo que imita o gesto e toca o outro lado, as mãos se cruzam e ambos mudam de lugar.
De um lado seu reflexo e do outro seu corpo.
Confuso procurou lavar seu rosto, mas da pia não saia nada, havia talvez a água acabado? Não! Pois do outro lado, seu reflexo com um olhar cínico soltou um sorriso de canto e abriu a água da pia, que tomou resposta diante dele. O mesmo surpreso a tocou, e percebeu que era mesmo água, oque estaria acontecendo? Porque aquela súbita mudança? Então se lembrou. O espelho!
E tentou o tocar, mas uma barreira o impedia de atravessar novamente.
Seu único pensamento foi: Oque vou fazer? Eu tenho que voltar... Tenho que voltar.. Tenho. que. volt. a. r.
Sem forças caiu ao chão.
Seu reflexo ria, mas agora não era mais reflexo. Era ele. Estava livre, podia ir onde quisesse, podia viver novamente. Podia fazer tudo aquilo que merecia. Afinal ele alcançou o direito de estar ali. Ele não enganou ninguém. Ele só procurou tentar viver, como todas as pessoas. Ele só buscou viver.
E saiu, deixando ao chão do outro lado
O seu reflexo imóvel.

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